QUANDO A MODA SE ALIA AO ARTESANATO
- Comunicação e Marketing
- 30 de set. de 2021
- 2 min de leitura
A perpetuação dos saberes tradicionais através das passarelas.
Por Victória Guimarães
30 de Setembro de 2021
Nas passarelas da SPFW de 2019, a estilista Flávia Aranha apresentou em sua marca homônima peças tingidas e fiadas de forma manual por artesãos brasileiros. A iniciativa teve o intuito de valorizar a cultura nacional, levando a designer ao nordeste 10 anos antes para descobrir mais sobre matérias-primas naturais e técnicas que poderiam ser aplicadas em suas confecções de alta moda.
Tinturas naturais retiradas de fontes vegetais foram incorporadas ao conceito da marca, através da técnica aprendida com artesãs da Cooperativa Central Veredas (MG), que participa da rede Artesol de mapeamento.

fonte: flaviaaranha.com
Todo o processo foi feito de forma não a se apropriar desses conhecimentos, mas sim, trazer visibilidade para essas práticas tradicionais através da voz dos próprios criadores. Maria Nadir Mendes foi uma das artesãs levadas à São Paulo, e relata com orgulho a respeito do casaco de chenille apresentado no desfile, que foi confeccionado juntamente com uma de suas colegas, através da técnica ensinada por sua avó quando Maria era criança.

fonte: lilianpacce.com.br
Em seu site Flávia é bem transparente em relação às companhias de artesanato que contribuem com sua marca, e é possível conhecer e saber um pouco mais sobre cada uma delas.
Ana Beatriz Hoffert, aponta em seu artigo para o blog da Fashion for Future que, 80% da produção artesã no Brasil é realizada por mãos femininas. Helena Kussik, mestre em antropologia social, complementa tal fato dizendo que muitas vezes, essa produção acontece em ambientes rurais como atividade cotidiana. Quando promovida uma parceria entre uma grande marca e essas pessoas, isso pode representar uma emancipação econômica e uma troca cultural, mas sem desrespeitar o panorama e as tradições desse grupo.
Hoffert também coloca em discussão a visão que se tem em relação ao artesanato de que esse seja algo ultrapassado, incompatível com a contemporaneidade. Porém, essa visão somente acontece quando se está acostumado com uma atitude de mecanização massiva e artificialidade.
Ao aliar o artesanato com a moda atual, cria-se uma postura de rejeição à essa produção industrial e de larga escala, que sabe-se que tem perpetuado ideais de automatização tecnológica que muitas vezes não são compatíveis com a sustentabilidade que o futuro necessita, criando diversos problemas ambientais ao gerar - e não tratar - resíduos e efluentes.
Trazendo à tona aquilo que é produzido por pessoas e não por máquinas, histórias são atribuídas a essas roupas e acessórios, reconstruindo um passado de harmonia entre o ser humano e a natureza, além de proporcionar peças únicas, exclusivas e dotadas de identidade.
E no caso do artesanato regional, essa identidade também remonta uma ancestralidade cultural, ao mesmo tempo que cria uma sensação de conexão com o local de pertencimento daquela peça. Promove-se então o afeto através de simples objetos de vestuário.
Comments