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“Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?”: a comercialização da beleza feminina na pós modernidade

  • Comunicação e Marketing
  • 8 de abr.
  • 3 min de leitura

A perpetuação do mito da beleza pelo mercado da moda e publicidade culmina na exploração da vulnerabilidade e no controle da identidade coletiva feminina. Como numa alquimia, o controle dos corpos se perpetua por meio da combinação de três pilares fundamentais: o valor, o desejo e a reprovação. A indústria da moda se sustenta pela apelação; pela ânsia de pertencer. 


Vivian Tripodo


É posto que existe um corpo ideal; nessa protagonização  do corpo magro, jovem e branco reside a transformação do corpo em capital; e além, em objeto de consumo.  Pautado pelo medo iminente da descoberta dos “defeitos”, as convenções sociais encontram no mito da beleza solo fértil. O corpo é posto em análise, é agente passivo: é manipulável e mutilado; é possível pôr e tirar o que não atende às expectativas. O corpo se metamorfoseia para se adequar à roupa, à moda, ao mito da beleza. O constrangimento é ferramenta fundamental de controle e a beleza, mecanismo de ascensão social. 


Beleza é um imperativo


Ao longo da vida, diversos são os “agentes panotípicos”: o pai, o marido, o padre. A capitalização do corpo feminino não se restringe ao caráter mercadológico; o corpo é moeda de troca nas relações interpessoais e profissionais. Segundo Michele Perrot, o primeiro mandamento da mulher é a beleza; “seja bela e cale-se” é a máxima a ser seguida.  

“[...] não existe mais desculpa para continuar assim, todas as mulheres podem ser bonitas, sendo apenas uma questão de maquiagem, cosméticos, vestuário. A estética tornou-se ética.”, via O CORPO FEMININO COMO CAPITAL E O MERCADO DA MODA: ESPAÇO DE PRODUÇÃO DE VULNERABILIDADE E DE IDENTIDADES

O mito da beleza sempre esteve presente, porém, após a Revolução Industrial, ele se materializou em imagens. Com isso, os meios de comunicação - antes as revistas femininas, hoje, principalmente, os canais de mídias sociais -  dominam a identidade coletiva, por meio do bombardeio e reprodução infinita de figuras idealizadas - e inalcançáveis, onde reside o apelo da moda.


“Tudo se dá por meio de um mecanismo que parte do social, da projeção do social sobre o indivíduo, passa pelo psíquico e se inscreve no corpo”, via O CORPO FEMININO COMO CAPITAL E O MERCADO DA MODA: ESPAÇO DE PRODUÇÃO DE VULNERABILIDADE E DE IDENTIDADES

Predomina dois imperativos: o anti peso e o anti envelhecimento. O corpo que deve ser visto e exposto é aquele sem marcas, sem gordura e flacidez, pois ele é a moeda, o capital.Mesmo nu, ainda está vestido; a roupa nesse caso não o veste, torna-se apenas um acessório de enaltecimento do corpo da moda. 

 Um mecanismo amplamente adotado é a tentativa de aproximação com o público alvo - mulheres, de diferentes idades - por meio da atribuição de um personagem. Mascarado por maneirismos e recursos linguísticos, as revistas tomam as figuras de “irmãs mais velhas”, amigas do interlocutor; é assumido o papel de mentor. Assim, mascaram o controle por meio de “conselhos”. 


Revista CLAUDIA, década de 70.
Revista CLAUDIA, década de 70.

Ter é Ser


O primeiro mandamento da mulher é a imagem; é fomentada uma obsessão em relação ao corpo, uma vez que torna-se mecanismo de ascensão social. Entre modas e modos, a mídia brinca com o desejo produzindo símbolos de imitação: artistas de televisão, modelos e, hoje em dia, os influencers. É explorada, no modelo capitalista e globalizado, um novo arranjo social: o espelhamento de vivências . Isto é, uma maneira correta de viver que se estende para além do ser; existem modelos preestabelecidos de prestígio e interpessoalidade.


“Desse modo, as academias, cirurgias plásticas, dermatologistas, nutricionistas, produtos de higiene e beleza, alimentos light e diet, roupas de grifes, seguem a mesma lógica das aplicações financeiras, as quais necessitam de um alto investimento, mas geram uma valorização relevante desse capital que também é um objeto de consumo, qual seja: o corpo.”, via O CORPO FEMININO COMO CAPITAL E O MERCADO DA MODA: ESPAÇO DE PRODUÇÃO DE VULNERABILIDADE E DE IDENTIDADES

            Atualmente, a publicidade se apropriou desse protagonismo; diversos são os beneficiados dessa coerção, entre eles a indústria da moda. Nessa comunhão de indústrias, o corpo é posto em leilão, que por sua vez trabalha sobre a não satisfação e na geração infinita de desejos, vontades e necessidades. Engano é basear-se no objeto e não nos signos que ele traduz; “o objeto é consumido não na sua materialidade, mas na sua diferença”. Quem não se adequa a moda do momento é excluído da sociedade, já que não é um potencial consumidor. A sociedade planta seus frutos -e, pior, floresce- onde as identidades pessoais são extinguidas. 


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