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Mulher, homem, bicho: a performance artística no Brasil durante a ditadura militar

  • Comunicação e Marketing
  • 29 de mar.
  • 3 min de leitura

Herdeiro do Movimento Antropofágico, o artista no Brasil se esquiva da catequização do pré-estabelecido; recusam a lógica. Cruzam a fronteira do gênero e sexualidade e fazem do palco seu laboratório. O corpo se mistura com a realidade sem a excluir; o resultado é o fruto de novos sentidos e o sincretismo de nossas heranças. O mundo é inesgotável; não é somente aquilo que pensamos, mas também o que sentimos.


Por Vivian Tripodo


Confundir para poder ser. “Dzi”, que vem do inglês “The” e “Croquettes” pois “não passamos de croquetes, nós somos feitos de carne”: assim se intitulava o grupo que surgiu no auge da ditadura militar brasileira e desamparou as noções dicotômicas de gênero e sexualidade. Em 1972, na cidade do Rio de Janeiro, revelavam-se em suas performances mil e uma formas de ser e desejar; desmantelavam a ordem heteronormativa em tempos de chumbo da força repressiva da ditadura. 


Dzi Croquettes
Dzi Croquettes
“[...] a carne evoca, de um lado, a matéria da nossa constituição corporal e a sua plasticidade a ser desvelada pelas performances”, via Dzi Croquettes e uma estética política do corpo.

A ENCARNAÇÃO DA PERTURBAÇÃO TOTAL 


Em meio ao cerceamento do individualismo e expressões artísticas  - vide AI-5 - os Dzi Croquettes criaram um paralelismo: completamente opostos à ditadura metamorfoseavam o real por meio de maquiagens e figurinos elaborados. Um universo de dubiedade se expandia à medida que performaram no espaço-tempo com potência e irreverência. O feminino e o masculino se perdiam; “Nós não somos homens. Desculpem! Mas nós não somos mulheres também, não! Nós somos gente!”. 



Dzi Croquettes
Dzi Croquettes

Mesmo antes do nascimento do movimento político queer propriamente dito, as performances dos Dzi Croquettes já encarnaram a subversão. Revolucionaram o cenário não só político como estético brasileiro com sua intensidade e cores vivas. 


“[...] Suas performances manipulavam a matéria corporal e revelavam que a materialização do sexo enquanto ideal regulatório é sempre incompleta”, via Dzi Croquettes e uma estética política do corpo.

O BALÉ DE CONTRÁRIOS


Em um novo esboço de prosa, o corpo em cena era o foco; um corpo que gesticula em rebelião ao tempo e, se entregando à sinestesia rompe esquemas dicotômicos do seu contemporâneo. Se inspiravam no teatro musical de revista e nos shows de cabaré; atribuíam-se de fantasias, cílios postiços, maquiagens, plumas, paêtes e púrpura.


O sujeito e o espaço se encontram na zona de porosidade na qual a carne perde seu significado objetivo e percorre uma dimensão ontológica - na qual a carne não é mais matéria e sim, ser humano. 



Dzi Croquettes
Dzi Croquettes


Os Dzi Croquettes eram a carne que perturbavam na mesma medida que encantavam: corpos viris dotados de força, pelos, transgredindo estéticas e normas vestindo esses corpos de adornos tradicionalmente femininos. 


HOMEM COM H 


Assim como os Dzi Croquettes, o grupo musical Secos e Molhados - formado inicialmente pelo trio Ney Matogrosso, João Ricardo e Gérson Conrado - procurava restabelecer os limites entre palco e plateia dos moldes do teatro tradicional. O encontro dessas potências se deu pela experimentação performática e a exploração de temas acerca da corporeidade, sexualidade. 



Secos e Molhados
Secos e Molhados

A modificação do esquema corporal deu novas possibilidades de criação e comunicação no espaço cênico - que não se restringe apenas ao teatro, mas também a rua, ao museu, a qualquer lugar passível de comportar a cena. Os Secos e Molhados e Dzi Croquettes elevaram a potência do corpo no espaço, dando ênfase à experiência vívida de habitar um corpo. 


Ney Matogrosso
Ney Matogrosso

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