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Moda Sustentável

  • Núcleo
  • 30 de mai. de 2019
  • 8 min de leitura



SUSTENTABILIDADE


O que é sustentabilidade?


O conceito de sustentabilidade ainda é muito controverso, ainda mais quando é retratado o cenário de desenvolvimento e concepção de algum produto; o termo indica a manutenção, tanto qualitativa como quantitativas dos recursos naturais e que sejam utilizados sem causar danos de suas fontes ou até exauri-las; a ideia central do conceito de desenvolvimento sustentável é que ambas necessidades atuais e futuras sejam satisfeitas, utilizando dos ideais que circundam-no, como: consumo e descarte consciente, reutilização, reciclagem e produção verde.


Os processos que asseguram um desenvolvimento sustentável, que são mais discutidos são referentes às necessidades humanas, contempladas de maneira igualitária, mantendo o equilíbrio natural entre as demandas da sociedade com a disponibilidade e potencial produtivo do ecossistema; além disso é importante destacar que a não degradação do sistema e a utilização e recursos de forma renovável, isto é, permitir que ocorra sua regeneração natural, aplicam-se também ao conceito central.


A sustentabilidade despertou na sociedade um novo movimento para um consumo mais consciente o Slow Fashion.


Slow fashion

Recente movimento na indústria da moda que, principalmente, questiona a temporalidade e as estruturas tradicionais da moda, sugerindo que o atual ritmo de produção seja desgastante e problemático nas dimensões social, ambiental e criativa. Desse modo, partindo desse questionamento, o Slow Fashion pretende promover uma consciência social em relação ao consumo, estimulando o consumidor a comprar com menos frequência e preferir produtos mais duráveis, de melhor qualidade e que sejam sustentáveis e socialmente responsáveis. Logicamente, produtores são parte fundamental desse diálogo e são convocados a repensar sua própria produção, incluindo a responsabilidade socioambiental, a valorização da matéria prima e mão de obra local e o compromisso em estabelecer um sistema de produção mais transparente e menos intermediado com o consumidor (JUNG E JIN, 2016).


Além disso, o Slow Fashion pauta como estruturas mercadológicas que operam no sistema da moda construíram um discurso que se estabeleceu como um senso comum: o de que a moda é frívola e radicalmente efêmera.


Essa narrativa mantém o consumo de moda atrelado à cultura do novo e ao culto à imagem, o que impede que consumidores se interessem por produtos usados ou por remendar roupas velhas, por exemplo.


Esse movimento é uma oposição direta ao Fast Fashion e levanta questionamentos necessários para a moda: estamos realmente criando ou apenas atendendo demandas de mercado? Quais caminhos a moda global está construindo?


Sustentabilidade na moda

No universo da moda, a sustentabilidade é analisada em diferentes aspectos; a utilização de métodos de desenvolvimento e concepção de produto que reutilizam materiais antes descartados (tanto sólidos como líquidos), o processo de fabricação de maneira “verde”, isto é, assegurando a manutenção ambiental - quando extraídas as matérias primas - envolvendo os processos de beneficiamento e confecção, principalmente, e o marketing de produto e conceito, englobando a importância do consumo de maneira consciente.


O consumo mundial de têxteis deve crescer cerca de 4% ao ano até o final de 2025 (APIC, 2014), contudo, dessa produção total, apenas 20% dos tecidos são reutilizados e reciclados, por ano (Soex, 2014), contrariamente a esse cenário, novas tecnologias de reciclagem vem surgindo: as toneladas de resíduos, geradas pela indústria, são transformadas em novos artigos, como na reutilização de tecidos de retalhos, utilizados para confecção de novas peças, bem como para a formação de novos tecidos.


Existem ainda marcas nacionais, que possuem como missão, a sustentabilidade de seus produtos, não só pela peça em si, mas toda a cadeia na qual passa o desenvolvimento, como por exemplo, o uso de matérias primas orgânicas - além da produção sem mão de obra infantil ou escrava – os processos de tingimento da peça realizados com pigmentos naturais, que não agridem o meio ambiente, a reutilização de água nos processos – bem como o tratamento final desta, evitando o despejo de substâncias potencialmente nocivas – essas marcas tem como missão o desenvolvimento sustentável de seus produtos, portanto, não comercializam somente peças ecologicamente corretas, mas também, o próprio conceito da marca. Dentre essas estão a AI.GISNKA, a Manui Brasil, Timirim Brasil, Pantys e Insecta Shoes.


A AI.GINSKA é uma marca que reinventou o índigo, a fundadora Marina Stunginski, tem experiência com os processos de beneficiamento do jeans, trabalhou e se aprofundou no processo de tinturaria, se envolvendo mais na possibilidade de desenvolvimento e concepção de um produto sustentável com a utilização de plantas com a pigmentação na tonalidade índigo. O corante natural que a marca utiliza no processo de tinturaria é muito menos nocivo ao meio ambiente, além de gerar efluentes líquidos que são tratados com maior facilidade; além disso, os vegetais utilizados possuem propriedades antifúngicas e hipoalergênicas, aumentando a vida útil do produto – que contribui para o consumo consciente – assegurando, ainda, um cuidado com a pele do cliente, que estaria em contato direto com os tecidos.


Pantys, marca de roupa íntima feminina, garante um produto sustentável, apesar de não ser a missão principal da empresa; ao criar um produto para a saúde feminina, se preocupam não só com o processo no qual seus produtos passam, mas também, com o descarte gerado pela indústria de produtos para a menstruação; as calcinhas desenvolvidas possuem uma camada impermeável, facilmente desgastada por alvejantes e amaciantes, portanto existe uma preocupação com a manutenção feita pela própria usuária, que também é menos nociva – sem contar a preocupação com a saúde das mulheres.


A marca Insecta Shoes é um exemplo de sustentabilidade, cada etapa do processo de formulação do produto é muito bem pensada.

“Na Insecta nós trabalhamos para repensar a economia, buscando alternativas de consumo e aumentando a vida útil do que já existe. Queremos polinizar o mundo com cor e consciência”

Seus produtos veganos reutilizam borracha excedente da indústria calçadista para a sola dos sapatos, tecido de PET reciclado, tecidos reutilizados de brechó e ainda, os excedentes da própria produção. Esse cuidado com a fabricação é exatamente a proposição da sustentabilidade, levando em conta, ainda, a contribuição da marca para o consumo consciente das peças, reduzindo os impactos ambientais.



Sustentabilidade na Indústria Têxtil

O setor têxtil é um dos setores que mais emprega e aumenta a economia o país, entretanto, as indústrias também são marcadas pelo trabalho escravo e infantil, exploração e agressão ao meio ambiente.


Para um produto final sustentável é fundamental que todo o processo seja consciente e ecológico, desde a matéria-prima (fibras), beneficiamento (preparação, tingimento ou estampagem), confecção até o descarte. Já existem alternativas sustentáveis para todas as etapas do processo.


Fibras Têxteis Vegetais

A sustentabilidade na indústria têxtil é uma preocupação real e já se tornou alvo de pesquisas e investimentos. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (ABIT), o Brasil é um dos maiores produtores têxteis e de confecção do mundo, sendo o quinto no segmento têxtil e o quarto no de confecção, e está no caminho certo para se tornar cada vez mais sustentável. Uma forma de desenvolver essa sustentabilidade é com o uso de fibras naturais muitas vezes pouco exploradas, como a fibra de coco, o abacá e a fibra da laranja, que passam processos de extração mais limpos, reutilizando materiais biodegradáveis descartados precocemente e economizando o uso de água em suas cadeias.


O coqueiro (cocos nucifera L.) é uma planta muito encontrada no nordeste brasileiro com grande potencial têxtil por causa de seu fruto. O Brasil, mesmo utilizando pouco desse fruto para fins têxteis, produz cerca de 8,1 bilhões de unidades de cocos e este material vem sendo disposto em aterros e lixões, provocando um enorme problema aos serviços municipais de coleta de lixo devido ao seu grande volume já que o meio ambiente leva de 8 a 12 anos para decompor o coco (CASTILHOS, 2011).


O processo mais comum de extração da fibra de coco é pela maceração, em que as cascas são imersas em água por um período de algumas semanas para que ocorra uma fermentação espontânea da matéria vegetal, auxiliando a liberação dos feixes fibrosos. Depois de maceradas, as fibras serão separadas no processo de desfibrilação, lavadas e secas sob o sol ou em estufas.


Algumas aplicações destacáveis dessa fibra são em geotêxteis, maneira 100% natural e sustentável de prevenção da erosão do solo; adubos de alta qualidade por conterem nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio; compósitos poliméricos fortes o suficiente para a construção de estruturas, painéis acústicos e guarnições de portas e janelas; feltros para enchimentos, controle acústico, filtros e isolamento; além do seu uso no vestuário, artesanato, tapeçaria e cordoaria (COIR... 2009)


Outra fibra vegetal pouco explorada é a fibra de abacá, obtida na base das folhas da planta de abacá ou cânhamo-de-manila (Musa textilis), planta da família das bananeiras nativa das Filipinas e Indonésia. Nesse caso, o que é considerado um incômodo para os agricultores pode ser usado como matéria-prima biodegradável para fios com grande qualidade e resistência mecânica e à salinidade.


A extração dessa fibra também é pela maceração e alguns de seus usos são na cordoaria náutica e têxteis domésticos com tecidos mais grossos, como tapetes e passadeiras; vestuário; filtros de cigarro e papéis, incluindo papéis moeda como o iene japonês; e na indústria automobilística, no corpo de automóveis fabricados pela Mercedes Benz, por exemplo. (IYNF COORDINATING UNIT TRADE AND MARKETS DIVISION FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2009).


Um último exemplo a ser citado de fibras com grande potencial sustentável é a recém descoberta fibra da laranja, fruto da laranjeira (Citrus sinensis). Através de estudos com o objetivo de desenvolver têxteis sustentáveis a partir de cítricos, a empresa italiana Orange Fiber criou um método de extração das fibras provindas da celulose da laranja. (LEITE, 2017). Segundo Enrica Arena, uma das criadoras do produto, em uma entrevista dada à BBC Brasil, o resultado é um tecido macio e brilhante, semelhante à seda, e que estão sendo feitos estudos para a aplicação da fibra da laranja no nicho de cosmetotêxteis, para a criação de cosméticos encapsulados com auxílio de nanotecnologia, como substâncias inseridas nas fibras têxteis para nutrir a pele sem deixar resíduos ou perfume.


Assim como essas fibras, existem outras com diferentes propriedades e características que poderiam ser aplicadas em nosso dia-a-dia no lugar de poluentes ou que poderiam contribuir com a diminuição desses. Em um país vasto em tamanho, clima e culturas, há espaço para o cultivo de diversas fibras têxteis sustentáveis e quando paramos para pensar todos os processos da indústria têxtil, fica mais claro ver que podemos melhorar e suavizar o seu impacto do meio-ambiente com investimentos e estudos desde a matéria prima.


Beneficiamento

Com uma enorme demanda de água, e a utilização de inúmeros produtos químicos, o beneficiamento é considerado o processo mais degradante de toda cadeia têxtil. Nesta etapa, o substrato (tecido ou fio) é submetido a tratamentos variados, a fim de garantir uma melhor aparência e um alto valor agregado aos produtos durante a comercialização.


Devido ao fato de a maioria dos procedimentos serem realizados à úmido, o

beneficiamento é responsável por um dos maiores desperdícios hídricos na indústria têxtil, chegando a gastar um volume entre 50 e 100 litros de água para cada quilograma de produto beneficiado.


Além disso, os insumos empregados nos tratamentos têxteis são em sua maioria químicos, e assim, prejudiciais ao meio ambiente, tornando necessário o tratamento dos resíduos produzidos, antes que estes sejam despejados na natureza.


Como atualmente a questão da sustentabilidade está sendo muito discutida, já conseguimos encontrar opções de beneficiamento sustentáveis, ou pelo menos, que agridam menos ao ambiente, já que a indústria dificilmente deixará de utilizar a água e os insumos químicos.


Mas, com o intuito de ter uma produção mais responsável, as indústrias podem optar por empregar produtos menos agressivos, utilizando como por exemplo, alvejantes de origem orgânica, métodos de tingimento com plantas e folhas, e também, esquemas de reutilização de água e efluentes, como por exemplo a lavagem em fluxo de contra corrente, onde a água que foi utilizada para lavar o tecido é empregada novamente no mesmo procedimento.


Confecção

Para manter a sustentabilidade no processo de costura do produto pode utilizar medidas como maquinário que consuma menos energia, luzes de led em todo espaço físico da fábrica, reaproveitamento de retalhos, bom posicionamento da peça para corte.


Outra opção para o maquinário é a máquina Tricô 3D, criada pela italiana Benetton, faz uma peça a partir de apenas um rolo de fio.


Nessa etapa de produção existem leis trabalhistas para seguir, o Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM), que faz parte do Ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego (TEM) é responsável pelo combate à escravização no Brasil.


No artigo 149 do Código Penal Brasileiro encontra-se o que enquadra como trabalho escravo. A pena é reclusão que varia de dois a oito anos e multa (a pena é aumentada se o trabalho escravo for com criança ou adolescente e por preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem).


Autoras

Aniele Andrade Campregher

Ariela Ferreira

Giovana Santana Buzeto

Laura Rocha dos Santos

Laura Rosão Dias

 
 
 

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