top of page

Jornalismo de Moda no Brasil e no mundo: imagens e narrativas da moda. O papel das revistas de moda

  • Comunicação e Marketing
  • 24 de jul. de 2019
  • 7 min de leitura


As revistas de moda são parte do conjunto de instituições que formam o sistema da moda e seu papel principal é intermediar as relações entre criadores e público. O conteúdo das revistas de moda é propositivo, indicando ao público a estética vigente da estação e as peças e estilistas que estão in voga.

As revistas são um importante espaço de legitimidade para moda enquanto sujeito da indústria cultural, são elas que amarram partes do sistema da moda que parecem independentes: o momento do desfile, o prêt-a-porter, estilistas, editores e a vida cotidiana do público. Desse modo, elas ajudam a delinear um conceito coletivo de moda, ao passo que também, contribuem para a criação de forças estéticas e culto á tendências que podem coagir o público e elevar a editores e jornalistas de moda ao cargo de juízes do gosto.


A história do Jornalismo de Moda e suas figuras centrais

A Moda em si é uma expressão de personalidade em sua essência, funciona como um portal de comunicação, uma vez que transmite a individualidade e os sentimentos de forma visual e tangível. Um meio de comunicação não verbal é estabelecida em função da impressão causada ao vestir uma peça.

O jornalismo de Moda é a forma literal e gráfica dessa expressão, legítima e liquefeita, portanto faz todo sentido que essas plataformas sejam conectadas, dessa forma o valor semântico carregado na moda é transposto no texto ou imagem, assim, o significado - intencional ou não - de um conjunto de peças arranjados de tal maneira, passa a ser transmitido com maior clareza. Esse tipo de mecanismo possui grande representatividade no mundo contemporâneo e tem como enfoque principal o vestuário, especialmente feminino, que é movido pelos valores pessoais em determinado período.

Como ressaltado, o jornalismo especificamente Moda é contemplado em algo mais amplo ainda, a “Comunicação de Moda”, que engloba toda a significação dos objetos, sejam de vestuário ou acessórios em um cenário.

As características do jornalismo e da moda podem ser diretamente espelhadas ao universo fashion. A renovação constante do jornalismo é correspondente as mudanças na moda. A variabilidade apresentada pelos autores no jornalismo vem ao encontro da diversidade da moda em sua acepção mais contemporânea.

Essa categoria de jornalismo baseia-se no ato do consumidor; o mercado de moda, bem como a natureza do periódico, é exposto às mudanças contínuas desse universo. As pessoas costumam consumir a moda mais do que a peça em si, isto é, compram o conceito, a identidade e como é elaborada a forma de expressão. Esse veículo de comunicação concentra as demandas do mercado fashion, uma vez que vendem a imagem composta e significada de um produto, assim a arte desenvolvida passa a ser uma ferramenta do mercado.


Uma breve linha do tempo do jornalismo de moda

A primeira revista foi registrada na Alemanha em 1663 - Erbauliche Monaths-Unterredungen - que abordava temáticas eruditas com textos didáticos. Nas décadas seguintes, mais precisamente em 1693, surge na Inglaterra a primeira publicação voltada para a Moda - Ladies Mercury - t​ razendo nas matérias dicas para o ato de vestir-se, poemas e moldes.

Alguns séculos depois, como em 1770 e 1820, são registradas, novamente, revistas com esse conteúdo - ​Lady’s Magazine ​e ​Godey’s Lady’s Books respectivamente. Estas foram pioneiras na produção de conteúdo relacionado ao figurino e produção da moda francesa; os destaques eram editoriais de moda com ilustrações que mostravam as tendências. Também desse período, 1867, nasce a ​Harper’s Bazaar - norte americana inspirada na versão alemã, ​Der Bazar - ​com artigos de literatura, moda, decoração e vida caseira (atualmente uma das mais importantes revistas de moda do mundo, investindo seu conteúdo em publicações de sofisticação que ditam as tendências).

Em 1892 surge a mais influente da revistas de moda, V​ ogue​, considerada a “Bíblia da Moda”. Inicialmente com publicações semanais sobre a ​high society - alta sociedade de Nova Iorque. Foi adquirida por Condé Nast em 1909, intensificando as publicações para vender roupas para a elite. Justamente nesse período, ​Diana Vreeland passa a ser a editora da revista, alcançando o título de mais importante publicação de moda do mundo, sustentado até os dias de hoje.

A França - pioneira em lançamento de tendências - lança sua primeira revista de moda em 1945, ​Elle, ​produzida por Pierre Lazareff e sua esposa Hélène. Assim como a tradicional Vogue, surge como uma publicação semanal voltada ao público feminino de classe média que viram a necessidade de ingressar no mercado de trabalho - com o desenvolvimento do prêt-à-porter do pós-guerra. A ​Elle trazia os looks da alta costura e mostrava como adaptá-los para a vida real com peças mais em conta.


Jornalismo de moda no Brasil

Em 1827, nasceu a primeira revista feminina brasileira: Espelho Diamantino, trazendo temas como política, literatura, artes e moda. Com seu padrão gráfico semelhante a um livro, era dedicada às senhoras, mas feita por homens já que na época, menos de 14% da população feminina no país era alfabetizada. Durou até 1828 e em seu primeiro editorial já tratava temas feministas com a seguinte máxima: “pretender manter as mulheres em um estado de estupidez (...) pouco acima dos animais domésticos” seria “uma empresa tão injusta quanto prejudicial ao bem da humanidade”.

A segunda revista feminina: Espelho das Brasileiras, surgiu em 1831 com a iniciativa do francês Aldophe Émile de Bois-Garin. Em 1852, o Jornal das Senhoras, de propriedade da professora argentina Joana de Noronha, possuía artigos de cunho feminista e, é claro, recebeu reações masculinas indignadas. Vinte anos depois, em 1872, outra professora, Francisca Diniz, lançou no sul de Minas Gerais, O Sexo Feminino. A revista contava com 800 assinaturas e seguia uma linha editorial feminista.

No início do século XX, surgiram A Cigarra e Frou-Frou, que falavam de moda, cinema, esportes e eventos sociais. Porém, a Revista Feminina, de São Paulo, que era o destaque da época. Começando como um folheto de divulgação de cosméticos, romances, e receitas culinárias, não demorou muito para conseguir vida própria, em 1914, e atingir a impressionante marca para a época de 20 mil exemplares por mês. Ela circulou até 1936, trazendo sessões de culinária, moda, beleza, literatura, saúde e questões sentimentais. Ainda sim, era considerada conservadora e tinha muitos textos escritos por homens.

A partir da década de 1950, novas necessidades de consumo foram criadas e a mulher, muitas vezes, passou a precisar trabalhar. Em 1959, a editora Abril lançou Manequim, uma revista de moda que ensinava as mulheres a costurar seus vestidos ou fazê-los por encomenda. A editora já tinha a feminina Capricho desde 1952, que começou com fotonovelas e depois voltou-se para o público adolescente. No início da próxima década, a Abril lançou a revista Claudia, que falava de moda, comportamento, beleza e culinária. Claudia completou 50 anos de circulação em 2011 e é considerada a maior revista feminina do Brasil, com circulação média de quase 420 mil exemplares mensais. Em 1973, vieram as revistas Mais, da editora Três e Nova, da editora Abril, inspirada na americana Cosmopolitan.

A versão brasileira da revista de moda Vogue foi lançada em 1975 pela Carta Editorial, permanecendo com o título até 2017, quando a Editora Globo e Condé Nast (detentora da versão original) anunciaram parceria e a nova empresa, com nome de Globo-Condé Nast, passou a gerir o título. Também versão de uma revista de moda de sucesso internacional, a versão brasileira de Elle foi lançada em 1988 pela Editora Abril, que detém os direitos do título até hoje.

Em 1989, a Editora Globo lança a revista Criativa, com foco para um público mais jovem e, em 1991, lança a revista Marie Claire, que assim como Elle e Vogue também são projetos originalmente internacionais. Também em 1989, a Editora Abril lança a revista Máxima, que durou até meados dos anos de 1990 e foi relançada em 2010.

Com a estabilização da moeda por conta do Plano Real, as revistas populares se multiplicaram a partir de 1994, alguns exemplos são: Tititi, da Editora Símbolo, Ana Maria e Viva!Mais, da Abril. Na primeira década dos anos 2000, a Editora Abril lançou mais títulos do segmento, a Sou+eu, Gloss e a Lola Magazine.

No meio do crescimento do jornalismo de moda no Brasil, surgem e consagram-se nomes importantes na área, tais como Cristina Franco, que foi uma das pioneiras ao tratar de moda de forma simples e explicativa. Com uma participação no Jornal Hoje da TV Globo, Cristina comentava as atualizações da moda nacional e internacional.


A produção de imagens

A imagem é o combustível do sistema da moda, o desfile e a imprensa são aliados na criação da imagem. Os desfiles ofertam as imagens necessárias às casas de moda e as revistas os registram, além do backstage, do estúdio, produzem editoriais e desse modo, multiplicam e divulgam imagens bianuais, durante o ano inteiro. Seguem alguns exemplos de imagens icônicas que marcaram a história do jornalismo de moda e suas respectivas editoras:

Regina Guerreiro para Vogue, em 1981.



Polly Mellen para Vogue, 1974



Diana Vreeland para Vogue, 1968.



Diana Vreeland para Harper’s Bazaar, 1959.




Franca Sozzani para Vogue, 2010.


Revistas para conferir:

We Stand Fearless Magazine: revista brasileira, produção independente de conteúdos feitos por jovens LGBTQI+. É gratuita e basta acessar ao site: westandfearless.com

Another: revista britânica, abordagem descontraída, seu conteúdo permeia entre várias áreas da cultura, apresenta criativos independentes e novos na cena da moda. É uma revista bianual. Basta acessar: anothermag.com

Self Service Magazine: revista parisiense, ativa desde 1994, aborda de modo criativo e apurado as semanas de moda e é bianual. Acesse: www.selfservicemagazine.com

Dazed: revista britânica, muito boa em mapear tendências de várias áreas da cultura, ligando-as com a moda. Dedica-se a construir, selecionar e divulgar estéticas alternativas. Acesse: Dazed.co

Fort Magazine: revista brasileira, outra boa divulgadora tanto de trabalhos de criadores consolidados como novos, possui ótimas entrevistas e olhar voltado à cena urbana. Acesse: www.fortmagazine.com

Liike Magazine: revista britânica independente com conteúdo voltado à sustentabilidade e ética na produção de moda e beleza. Acesse: www.liikemag.com


Para assistir:

The september issue: documentário sobre a produção da edição de setembro da Vogue Americana. Disponível no Youtube.

Chãos and Creation: documentário sobre a trajetória da editora Franca Sozzani. Disponível na Netflix.

The eye has to travel: documentário sobre a ascensão de Diana Vreeland como editora de moda, destaca e contextualiza bastante o papel da editora e do jornalismo de moda. Disponível no Vimeo.

Entrevista com Regina Guerreiro no programa Provocações da TV Cultura: ótima para se ter um panorama do jornalismo de moda no Brasil e do trabalho de uma editora. Disponível no Youtube.

 
 
 

תגובות


Fique por dentro de tudo que acontece na TRAMA Júnior:

bottom of page