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Corpo, Moda e Arte: Decifrando o Tema do MET Gala 2026

  • Comunicação e Marketing
  • 21 de nov.
  • 5 min de leitura

Por: Gustavo Feliciano


O MET Gala é um dos mais aguardados eventos do mundo da moda. Como de praxe, ocorre anualmente no Metropolitan Museum of Art, em Nova York. Na segunda-feira passada (17), o tema da edição de 2026 foi divulgado pela Vogue: Costume Art. O queridinho dos profissionais e entusiastas da moda, na próxima edição ocorrerá em maio, no dia 04, e terá ligação com a exposição de Andrew Bolton, que será inaugurada no mesmo mês, quase uma semana após o evento, compartilhando o nome do tema.


Em linhas gerais, o MET Gala é, fora do que se espera usualmente de um evento de moda, um jantar beneficente, fundado em 1948 por Eleanor Lambert. Os fundos arrecadados são destinados, desde a inauguração, à manutenção da inédita ala de moda do museu, a Costume Institute. Esse espaço reúne acervos e sedia exposições recorrentes, desempenhando um papel fundamental na reverberação da moda e na sua equiparação às outras formas de arte.


Além disso, o evento representa a movimentação de um alto capital financeiro, recebendo investimento de grandes marcas e empresários, e lançando seus frequentadores a um lugar digno entre os ícones de estilo globais. Os convidados são escolhidos a dedo pela ex-editora-chefe da Vogue norte-americana, Anna Wintour, um nome de grande prestígio no meio. Apenas a nata dos atores de cinema, artistas, modelos e políticos recebe o famigerado convite, tendo assim a honra de prestigiar uma noite repleta de apresentações especiais e, o mais inédito, de ter acesso à exposição tema da vez, isto é, antes da abertura ao público. A grandiosa reverberação do evento nas mídias sociais o eleva como marco da cultura pop, e a discussão calorosa sobre os temas começa assim que anunciados, não sendo diferente desta vez.


Antes de entrarmos em detalhes sobre a próxima edição, vale relembrar os temas passados. Tailored For You, na edição de 2025, propôs que os convidados pensassem em um modelo sob medida e, junto à mostra Superfine: Tailoring Black Style, reverenciou o estilo do povo negro que se espraiou pelo mundo durante a diáspora africana a partir do século XVIII. Em 2024, Sleeping Beauties: Reawakening Fashion apresentou uma temática baseada nas belezas da natureza, com referência à obra The Garden of Time, de James Graham Ballard. No ano de 2023, o tema Karl Lagerfeld: A Line Of Beauty destacou a influência do designer e suas criações. Os convidados não pouparam homenagens à sua gatinha Choupette e, é claro, às roupas assinadas por ele nas principais grifes do mundo.


A mostra Costume Art, ou “Arte da Fantasia”, em tradução livre, irá compilar 200 obras com cerca de 200 itens de moda, entre roupas e acessórios, com foco na representação do corpo na arte e na relação histórica e indissociável desta com o vestir. Como explicado por Bolton em entrevista à Vogue: “A mostra vai explorar representações artísticas do corpo vestido, combinando peças de moda e obras do vasto acervo do museu para destacar a relação essencial entre a roupa e o corpo”. O corpo é o grande foco: como este se expressa, se posiciona e reafirma ou contrapõe padrões em sociedade seria o caminho mais fidedigno ao se basear na curadoria para a idealização de um look dentro do tema. Bolton completa que, mesmo quando as obras retratam figuras nuas, elas são carregadas de simbologias. Assim, o corpo se torna, mutuamente, receptáculo e difusor das narrativas das roupas que o vestem ou deixam de vestir. A mostra irá se dividir em quatro sessões temáticas: corpo nu, corpo clássico, corpo grávido e corpo anatômico, contando até mesmo com a exposição de uma peça da estilista brasileira Renata Buzzo.



Vestido por Renata Buzzo em exposição de Andrew Bolton.                                 Fonte: Vogue
Vestido por Renata Buzzo em exposição de Andrew Bolton. Fonte: Vogue


Tudo aponta para que as celebridades convidadas apostem em roupas com uma representação literal do corpo ou referenciem figuras da iconografia artística e cultural. Como exemplo, podemos pensar na deusa Vênus, da mitologia romana, cuja representação se deu em inúmeras obras ao longo do tempo, como na pintura O Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli, e na escultura Vênus de Willendorf, datada de um período ainda mais remoto. Ambas apresentam a centralidade do corpo, especificamente feminino, sob um viés de idealização e erotização, o que se encaixa no tema. No geral, o público clama por “cunt”, mas esperamos também uma abordagem profunda, dotada de significados simbólicos, com respeito ao tema e alicerçada na base teórica de tendências artísticas relacionadas a tal, como a Body Art, que, através da corporeidade, comunica aquilo que não se expressaria apenas em palavras. Com esses exemplos específicos, podemos pensar nas possíveis entregas de forma geral, imaginando releituras que ficariam, literalmente, para a história.


Até o dia 04, podemos pensar nos looks que serão utilizados, com base em coleções de moda passadas.



The Skeleton Dress por Elsa Schiaparelli.             Fonte: Fashion History Timeline
The Skeleton Dress por Elsa Schiaparelli. Fonte: Fashion History Timeline


Schiaparelli Alta Costura Outono Inverno 2025/26.                                                                          Fonte: Schiaparelli
Schiaparelli Alta Costura Outono Inverno 2025/26. Fonte: Schiaparelli


Maison Margiela Artisanal Verão 2024.                       Fonte: Vogue
Maison Margiela Artisanal Verão 2024. Fonte: Vogue


Jean Paul Gaultier Alta Costura Outono 2003.             Fonte: Vogue
Jean Paul Gaultier Alta Costura Outono 2003. Fonte: Vogue


Iris Van Herpen Alta Costura 2011.                               Fonte: Iris Van Herpen
Iris Van Herpen Alta Costura 2011. Fonte: Iris Van Herpen


Em algumas edições anteriores os convidados entregaram looks bastante adequados ao tema desta edição de 2026. De Tyla, que usou um vestido “de areia” que delineava todo o seu corpo, a Doja Cat, com uma camisa de aparência molhada e trabalhada na transparência, sem nada a esconder. Aparentemente, os eventos passados servem como pistas para os temas daqueles que ainda estão por vir. Podemos ainda esperar por performances, como a de Lady Gaga no MET Gala de 2023; afinal, qual a melhor forma de conferir protagonismo ao corpo senão servindo teatralidade e drama?



Cantora Tyla vestindo Balmain no MET Gala 2024.                                                                               Fonte: Vogue
Cantora Tyla vestindo Balmain no MET Gala 2024. Fonte: Vogue


Cantora Doja Cat vestindo Vetements no MET Gala de 2024.                                                               Fonte: Vogue
Cantora Doja Cat vestindo Vetements no MET Gala de 2024. Fonte: Vogue


Lady Gaga trocando de looks em pleno tapete vermelho no MET Gala de 2023.                                                                                                                                   Fonte: Allure
Lady Gaga trocando de looks em pleno tapete vermelho no MET Gala de 2023. Fonte: Allure

Vídeo da transformação de Lady Gaga: https://vt.tiktok.com/ZSfFfRNLw/


Nas redes sociais, algumas polêmicas envolvendo essa edição do MET fomentaram discussões calorosas. Alguns internautas expressaram insatisfação ao se depararem com Jeff Bezos, o fundador da Amazon, como um dos patrocinadores do evento. Além disso, dividem-se opiniões quanto à abordagem do tema pela leitura superficial de seu título, que nos leva a entender “Costume” literalmente como fantasia, abrindo uma ampla gama de possibilidades quanto à abordagem do tema pelas celebridades. Apesar de concordarmos que, seguindo-se o tema, tudo se torna mais interessante e coeso, não iríamos reclamar se nos fossem servidos figurinos dignos de uma passarela de John Galliano nos anos 2000.


Em suma, com um tema que coloca o corpo, e suas infinitas narrativas, no centro do vestir, o MET Gala 2026 tem tudo para unir teoria, espetáculo e provocação estética. Resta aguardar se as celebridades estarão à altura da proposta curatorial de Bolton ou se seguirão caminhos mais literais. De qualquer forma, o tapete vermelho promete entregar looks que vão redefinir o diálogo entre moda, arte e corpo no imaginário contemporâneo, e a edição se consagrará junto às anteriores no hall of fame de eventos de moda icônicos ao redor do mundo.


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