Carnaval e a Moda - Uma abordagem histórica, social, política e criativa.
- Comunicação e Marketing
- 27 de abr. de 2022
- 4 min de leitura
Por: Rayssa Carvalho
Colaborador: Laizy Pimentel
Os desfiles das Escolas de Samba têm atraído o interesse de diversos setores da sociedade; seja por motivos econômicos, socioculturais ou, ainda, pelo simples prazer em participar da festa, desfilando, assistindo e desenvolvendo o “saber carnavalesco”. Nesse viés, muito além de customizar abadás, a moda possui o papel de ressaltar o poder cultural e social da tradição carnavalesca.
Histórico e Social
De acordo com a autora de “Os Figurinos Carnavalescos para Comissão de Frente do Império da Tijuco”, o carnaval do Rio de Janeiro não possui história única, pois seus autores são oriundos de várias vertentes que o constituíram. Dessa maneira, os grupos negros provenientes da Bahia, os imigrantes de várias regiões, as comunidades pobres cariocas, os artesãos, artistas e músicos bem como o povo que participava da festa carnavalesca reuniram-se em torno dos desfiles das escolas de samba, tornando- os em eventos urbados que amadureceram, dos anos 30 aos anos 50, iniciando na década de 1960 sua trajetória rumo aos ‘desfiles espetáculos” dos anos 80.
A década de 1980 foi decisiva para o novo carnaval pois muitas mudanças foram efetivadas, as escolas de samba passaram a ser julgadas de acordo com a proposta do seu desfile, em vários quesitos, por um grupo de jurados oriundos de diversas atividades. Esses jurados são encarregados de avaliar dez itens dos desfiles das escolas de samba: a comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeira, conjunto, bateria, alegorias e adereços, fantasias, enredo, harmonia, evolução e samba- enredo. (OLIVEIRA, Madson; GERHARDT,Suely; 2011)
Design e Vestuário
A participação de artistas e profissionais oriundos de outras práticas que não o carnaval contribuiu para transformar os desfiles das Escolas de Samba em espaços híbridos, nos quais as diferentes práticas e experiências se juntaram para criar apresentações com forte apelo visual, através das alegorias, adereços e fantasias.
De acordo com a figurinista Rosa Magalhães, os figurinos carnavalescos possuem, basicamente, três categorias: fantasias de ala, fantasias de composição e fantasias de destaque ou de luxo.
De maneira geral, o projeto de figurinos é realizado a partir de desenhos ou croquis, manuais ou digitalizados. Muitos carnavalescos contratam desenhistas e ilustradores profissionais para este fim. Isso acontece, geralmente, entre os meses de julho e agosto para dar tempo de apresentar algumas fantasias à comunidade no desfile de fantasias-protótipos, em setembro ou outubro. (MAGALHÃES, Rosa, 2005)
Os materiais utilizados na confecção de fantasias também parecem incomuns, pois, além dos tecidos, alguns carnavalescos utilizam acetatos, paetês, plumas, penas e aviamentos que servem para adereçar as fantasias. O trabalho é muito rebuscado, pois, apesar de alguns aviamentos e bordados serem comprados a metro, industrializados ou manufaturados em oficinas especializadas, o modo de aplicação é, muitas vezes, manual, ressaltando, assim, o caráter artesanal. (MAGALHÃES, Rosa, 2005)
Cada vez mais, os critérios de julgamento dos figurinos vem subindo de patamar, nos últimos anos figurinistas têm desenvolvido tecnologias mais avançadas para impressionar os jurados e o público. O uso de recursos como LED e trocas de roupas em segundos dando a impressão de “mágica” são alguns dos exemplos.

Foto: Fantasia feitas com LED pela escola de samba Unidos da Tijuca

Foto: Fantasia feitas com LED pela escola de samba Unidos da Tijuca
O Carnaval e o poder da manifestação política
A carnavalização no Brasil faz parte da política. Os protestos são feitos, em diversas ocasiões, acompanhados por música, cantos e bateria, além de fantasias e faixas que recorrem ao humor. (THOMÉ, Debora. 2017)
De acordo com a cientista política Debora Thomé, para uma sociedade como a brasileira, na qual o Carnaval marca até o `'início real” do ano, trazer discussões políticas para dentro da folia é mais que salutar, algo bastante natural. Carnaval é debate, é movimento.
A partir do contexto político atual, as escolas de samba não deixaram de lado suas posições e estamparam o debate que enfrentamos nos últimos dois anos de pandemia: o negacionismo à ciência e a política anti-vacina do presidente da república. Nesse sentido, a escola Rosas de Ouro ironizou a postura do presidente sobre a vacinação contra a covid-19. Um personagem que representava o presidente se transformava em jacaré depois de receber uma dose. Ainda em 2020, ele declarou que não tomaria vacina e falou, como de hábito sem dados, em efeitos colaterais.

Foto: Marcello Fim/Zimel Press/Agência O Globo
Carnaval e a abordagem criativa
Quanto ao figurino, como o próprio nome sugere, são as fantasias usadas pelos integrantes da escola, para retratar o enredo, a época dos acontecimentos históricos, ou os elementos tradicionais, folclóricos, regionais, de acordo com o tema. O critério mais importante a ser observado neste quesito, para o julgamento, é o perfeito entrosamento entre o tema e os figurinos propostos pelo carnavalesco, não importando o material usado, mas a criatividade, a originalidade e a graça. (FILHO, José, 2015)
A forma de desenvolver um projeto, quer seja ele para o vestuário de moda ou carnaval, é semelhante, e inicia com a escolha do tema/enredo, que é a história, o argumento, a inspiração de uma coleção/carnaval. Normalmente se dá por identificação, discussão e possibilidades que este proporciona a uma criação. Tanto o designer de moda quanto o carnavalesco são profissionais que usam suas aptidões, ideias e criação para o desenvolvimento de modelos de roupas/figurinos e acessórios para empresas ou desfiles de moda/carnaval. (FILHO, José, 2015)
E, aí, curtiu? Já havia refletido sobre o poder das manifestações carnavalescas? Nos conte nos comentários e aproveite para seguir a Trama Jr nas redes sociais!
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