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COMO A MODA SE EXPRESSA EM “A SUBSTÂNCIA”

  • Comunicação e Marketing
  • 11 de nov. de 2024
  • 4 min de leitura

O filme dirigido por Coralie Fargeat vem ganhando bastante notoriedade por suas cenas viscerais e sua crítica social de peso. Além dos aspectos chocantes, é possível perceber diversos momentos em que a moda complementa os sentimentos que o longa busca transmitir. Acompanhe o texto a seguir para entender como esse contexto foi construído.


Cena inicial de ‘A substância” / reprodução: Mubi

Por Kaio Antonio Bispo

11/11/2024


Se você navegou pela internet nos últimos dias, provavelmente se deparou com algum conteúdo sobre o filme “A Substância”. Na trama, Elisabeth é uma estrela de televisão que se tornou famosa pelo programa que apresentava na juventude. Porém, como tudo na vida é temporário, a fama da personagem começa a declinar devido aos padrões estéticos estabelecidos na época. Como solução, Elisabeth precisa se afastar de suas funções. Ela é então apresentada a um frasco “mágico” que promete revelar a melhor versão de si mesma, ou, como ela deseja, uma versão “jovial”. Após esse processo, acompanhamos a personagem sustentando uma dupla identidade e aprendendo a lidar com as consequências dessa atividade.


O figurino do filme, assinado por Emanuelle Youchnovski, demonstra como a moda e a semiótica podem caminhar juntas para compor os sentimentos das cenas.


A melancolia de envelhecer

Elisabeth se olhando no espelho após uma noite arruinada / reprodução: Mubi

Desde o início do filme, percebemos que Elisabeth não consegue aceitar que a terceira idade está batendo à sua porta. O fato dela ter se inserido em um ambiente fortemente ligado aos fatores estéticos contribuiu para esse evento e aqui, a equipe de figurino utilizou o azul para representar a melancolia da personagem. Em praticamente em todas cenas que acompanhamos durante o filme, a personagem utiliza looks com os mais variados tons azulados e modelagens com aparência mais rígida e opaca, sinalizando o desconforto dela com o próprio corpo. De acordo com o portal Qu4rto, a aplicação das cores pode representar muito bem o estado emocional da personagem, assim como vemos ao decorrer do filme.



Exemplificando as variações de azul presentes nos visuais de Elisabeth / reprodução: Mubi


Rosa contagiando a juventude

Letreiro ilustrativo que introduz a personagem Sue / reprodução: Mubi

Passando para a metade do filme, conhecemos a versão “melhorada” de Elisabeth que foi resgatada pela substância. Sue é uma garota alta, morena, com olhos claros, bastante vaidosa e decidida de que nasceu para brilhar. Ao demonstrar os conceitos de personalidade de Sue, a equipe de figurino definiu o rosa como predominante, representando o ar de carisma e sensualidade, assim como a persona era posicionada nos espetáculos da televisão que estrelava.



Exemplificando as variações de rosa presentes nos visuais de Sue / reprodução: Mubi


Conflito entre as duas personalidades

Sue passando por apuros no banheiro do estúdio / reprodução: Mubi

Partindo para o clímax do filme, vemos o momento em que Elisabeth questiona a sua identidade e se ainda deve continuar seguindo com o “tratamento”. Para além dos acontecimentos chocantes que ocorrem durante esse período, a trama nos apresenta uma situação onde Sue está prestes a realizar o maior de seus trabalhos como personalidade pública. Para complementar a bagagem que é abordada, a organização de figurino pensou que talvez fosse melhor de exemplificar os sentimentos se eles unissem os aspectos visuais das duas personagens em uma só, e pensando nisso, vemos como Sue aparece para a televisão utilizando um vestido deslumbrante e excêntrico, assim como ela sustentou durante todo o filme, mas dessa vez a tonalidade azulada do vestido chama atenção ao nos recordar que essa era a cor utilizada por Elisabeth, nas cenas iniciais do filme. A partir daí, vemos como ambas lutam para sobreviver em harmonia mas falham ao não respeitar o momento individual de cada uma, como se azul e rosa conflitassem entre si para se sobressair na cena.


MonstroElisaSue se apresentando na cena final do fime / reprodução: Mubi

Outros símbolos e representações


Ao decorrer do filme, é possível notar alguns símbolos que dialogam diretamente com o enredo do longa. Além das cenas já mencionadas, a estratégia do figurino também se mostra em outras cenas, acompanhe: 


O casaco amarelo utilizado pelas duas personagens, representa o vídeo de simulação em que o funcionamento da substância é apresentado. 



Exemplificando o argumento apresentado através de cenas do filme / reprodução: Mubi


O azul e o rosa nas vestes de Sue em seus primeiros minutos, demonstram a transição de uma personagem para outra.


Sue aproveita os seus primeiros momentos / reprodução: Mubi

Roupão com estampa de dragão representa o renascimento da personagem.


Sue e seu roupão extravagante / reprodução: Mubi

Look de couro de Sue representa a maneira como ela “trocou de pele”.


Look de couro de Sue / reprodução: Mubi

Um final para refletir

Elisabeth insatisfeita com a sua aparência / reprodução: Mubi

A cena que resgatamos na parte final desse texto, diz respeito a um momento onde Elisabeth tenta agir como Sue para se sentir bonita de novo. Percebemos nesses minutos que ela utiliza como base as atitudes e maneiras de se portar da personagem mais nova, que é um espelho para os padrões de beleza pregados naquele contexto. Não é novidade para ninguém que a moda age como um elo altamente influenciador para pessoas mais sensíveis, onde diariamente são expostas a ideais de beleza inalcançáveis e que adotam minorias de maneira rasa. É ótimo perceber como o cenário fashion está caminhando para mudar esse esquema, deixando marcas que buscam se adaptar às variedades das pessoas.  O filme transmite a sua mensagem muito bem, e nos ajuda a recordar como profissionais de moda que é nosso dever pensar em estratégias para não resgatar sistemas depreciativos, exaltando sempre a diversidade.


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